Rimas, falsetes e falseados e palavras que se confundem, se afastam e se juntam numa estrofe ou estribilho de um par de coisas ou coisa alguma

Poetas dos trópicos

Poetas dos velhos,
os trópicos batem a sua porta,
sua sala de jantar,
que de simples e modesta,
estão mortas,
e vivas em algum pomar,
de um jardim oriental,
de nome paradisíaco e floral

Esquisitas linhas em círculos,
confinadas estão ao tempo,
que um transparente aquário
vire lodo e limbo.

E aquele jardim abissal,
de uma propaganda surreal,
onde os caminhos não terminam
nem mesmo os que levam até lá;

Algo de intermitente
é o que os velhos chamam,
e em um dia acabará,
para que curiosos o vejam brotar.

Mas, ali estava depositada a janta.
A sala era de convivas:
fúnebres, nevrálgicos e excêntricos,
reunidos a esperar o prato principal.

Então, o poeta entra,
e os espelhos reluzem,
em olhos transparentes,
absortos e complacentes.

Querem às bocas gritar,
e o jubilo  extravasar,
o poeta estraçalhou o aguardado,
o prato do dia;
e enquanto os cacos a multiplicar,
contavam-se as vozes do infortúnio.

O personagem, o poeta, e tudo,
o mais que tudo faltara,
destruía enquanto as desgraças
transformavam-se em aplausos,
surdos e contagiantes.

Aquele fez seu quadro:
um prato, um assembleia,
um jardim e uma sala.
E nada disso era factual,
sentido nada havia.
O poeta dizia o quê,
e o por quê era absolutismo,
o prato não foi servido,
e o rei foi destronado;

A novidade estava aí,
em busca de motivos,
o poeta recitou a sua,
os poetas velhos,
do velho continente,
da velha língua,
da velha nostalgia.

A foto e a mulher

Uma foto,
e uma mulher,
uma jovem e maquiada,
de elegância e muito garbo:
um rouge no rosto,
olhar sedutor, e apraz,
de tez rósea, que muito trás...

Uma mulher,
de colo delgado,
um fino delicado,
cujos ombros nus,
trazem no decote,
uma renda de brocados,
a estampa do tecido,
vermelho com pétalas rosas
colado ao busto à metade da coxa,
enquanto às costas,
um longo casaco de peles,
avolumava o quadril,
de uma pintura corpórea,
que só um vestido,
e a forma de quem o veste
pode emprestar.

Uma mulher,
que entre os seios,
almofadas podem ser lembradas,
onde a forma enrijece,
em sibilantes bicos de cereja,
que o decote a meia-taça,
apenas completa
em um ser que parece imutável,
em sua arte,
de seduzir, de aparecer,
dos mais recônditos ninhos,
de renascentistas, a classicistas, humanistas, arcádios...
de uma beleza de uma filha do titã,
de uma Europa,
há banhar-se nua,
nas águas turvas,
do mar que foi criada.
Ou mesmo de um deus com uma [mortal,...
um canário ao pôr-do-sol,
onde uma ninfa escutará,
aprisionada em seu paraíso.

Uma mulher,
de cabelos fartos, soltos,
e arregadios...
hidratados, bem-tratados,
de fios tão brilhantes,
como pedras de jaspe,
mas aquela era a mulher,
em uma foto,
vertida ao tempo,
em páginas de anos,
e anos carcomidos...
em que a mulher,
só era ela ali,
e nem um outro lugar a mais.
Era um espírito em forma,
em grau, em sentimento,
de uma arrebatadora,
e irresistível mulher,
onde suas curvas,
não podem ser desprezadas,
ao mais vil dos pecados
alimentados pelos desejo,
de quem a vê...
que os puritanos iram amaldiçoar
em quadros de morte e pestilência...
E aquela mulher sairia da revista,
para a morte, sem nem sequer
imaginar-se pecadora de algo,
mas que o olhar dos outros,
a acusou como tal.
Ela não pode ser desprezada,
pois, como se sabe,
ela alimenta sonhos, desejos,
libidos, lascivas e o mal,
que apenas uma foto,
e só ela, pode acatar.

O aquário

Um século a mais,
de um ciclo do zodíaco.
numa resma de jornal.

Na Bíblia, o fim está chegando,
o ciclo está findando,
e uma era começará.

Os astros ensinam,
que o peixe dará lugar,
ao aquário, que o sol,
a estrela maior, apontar.

Os signos, as cruzes, os círculos...
tudo irá transbordar,
em uma vasilha de mãos trêmulas,
onde o peixe irá pular,
e então resistir,
até seu clausuro de águas,
límpidas e transparentes.

Graças a Deus

O Deus é maiúsculo,
gênero masculino,
substantivo próprio,
número singular.

A expressão que aferra,
nos momentos de desforra
vira uma catarse de glória;
para tal se usa a graça.
E assim fica:

Graças a Deus,
que também é o Deus dos “onis”:
onisciente, onipresente, onipotente,
como se uma coisa pudesse ser,
e não ser ao mesmo tempo!

O deus minúsculo,
é plural e invariável
comum de dois gêneros.
Ele é pagão.

O pagão é uma estátua,
grande, pequena,
 que não faz diferença.
Mas, seu significado,
outro foi.
e hoje não é mais.
É que seus símbolos,
são os demônios,
e estes são os deuses.
Os deuses pagãos.